quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Paradoxo: vento solar






Paradoxo: multidão / solidão


Um dos textos que pode nos dar parâmetros quanto a este paradoxo, está abaixo citando um poeta muito especial _ Drumond de Andrade.



E eu me pergunto existe um Drumond em cada um de nós ? _ os sensitivos, os que seguem em busca de melhores qualidades de vida e harmonização?

Até em meios onde existe a família, o lar, o esteio que brilha e comporta uma troca de valores humanos, por estarem em níveis diferenciados de buscas, a solidão está sendo sentida. Não é a mesma da amargura ou da falta de companhia de pessoas, mas a que instiga a ampliar valores que fossem em harmonização de ambientes, alegria e condições especiais a adaptar cada idade em sua jornada. Observo que nos tempos atuais cada um deixou de fazer seu papel convencional e isto faz com que um stress e um condicionamento urgente ou uma forma de adaptar-se pelas necessidades possam tornar o ser um alvo de situações mascaradas.


Para compreender melhor basta analisar o que gostaria de estar neste momento, atuando ...investindo, fazendo, empreendendo em seu tempo interno e em vias de fato sua melhor parte do dia, da vida, dos sonhos. E notamos que estamos feito elétrons em torno do núcleo, com uma carga negativa, portanto distantes do que nosso amor cósmico almeja. Embora com isto se faça parte do conteúdo, orbitamos nossa essência e com isto apenas nos vemos com vontade de realizar, sem que possamos de fato mudar algo * a não ser em nós mesmos.


Este princípio nos mostra a solidão elétron! Creio fazer parte da evolução, num paradoxo!


E se podemos contribuir com algo bom que seja nossa paciência em orbitar, nossa persistência em permanecermos orientadores para que junto ao eixo possamos atingir um outro nível humano de existir adiante de sentimentos.. capazes de elevarmos a condição e estabelecermos metas mais significativas, aí está a importância dos seres que são afins. Abraços solares.


O texto nos faz refletir.

O poeta moderno, além de viver numa era de transformações decorrentes, sobretudo, do avanço tecnológico, precisa conviver algo que lhe inquieta e lhe inspira poesia: sentir-se sozinho em meio à multidão. Sente-se sozinho não apenas por ser poeta/artista segregado pelo mundo mercadológico da produção e do consumo, onde a poesia não se enquadra no caráter de reprodução que visa apenas o lucro, pois, “o artista da palavra tanto pode receber uma valoração positiva, como um elo forte e vivificante da cultura, como pode ser visto de forma negativa, como elemento à margem da estrutura produtiva” (FONSECA, 2000, p. 43).


Na metrópole, portanto, além de se sentir à margem, o poeta sente-se sozinho também por não conseguir contato com uma multidão de pessoas apressadas e atarefadas que se olham, mas não se veem. Sente-se como uma espécie de estrangeiro em sua própria pátria já que “na sociedade ideal dos homens práticos, a figura do poeta é deslocada para uma zona de silêncio, ou seja, parece não ter lugar ou cabimento” (FONSECA, 2000, p.45).


As imagens da cidade e esse sentimento de não-lugar, associado ao sentir-se só, podem ser exemplificados a partir da poesia de Carlos Drummond de Andrade, nesse caso específico, com a análise do poema A Bruxa.

O título do poema já nos remete à figura de uma mulher estereotipada como criatura má, sobre quem recaí a culpa pelas desgraças que assolam a humanidade e que deve se manter isolada daqueles que, segundo a convenção social e o discurso ideológico, são os que praticam o bem, os responsáveis pelo progresso. Como se vê, o isolamento já é incitado no título do poema quando nos deparamos com essa alusão à figura da mulher bruxa.

Nos primeiros versos o eu-lírico Drummondiano nos situa acerca do lugar onde e sobre o qual escreve: a cidade do Rio de Janeiro; mostra-nos que, mesmo em meio a dois milhões de habitantes, sente-se sozinho, são versos do poema: “Nesta cidade do Rio / de dois milhões de habitantes / estou sozinho no quarto / estou sozinho na América”. (ANDRADE, 2004, p. 18)



Dois milhões de habitantes aglomerados numa metrópole e isolados por ela. Isolados por seu afazer diário, isolados pelo relógio que não lhes permite “perder tempo” no contato com o outro, pois para o habitante da cidade “tempo é dinheiro” e não pode ser desperdiçado.

O paradoxo solidão/multidão na poesia de Drummond nos remete ao que foi preconizado por Charles Baudelaire “principalmente com sua descoberta de que as multidões significam solidão” (HYDE, 1998, p.275).

Após a revolução industrial, o homem do campo, o trabalhador servil, viu na cidade várias outras possibilidades de trabalho e isso significava concretamente uma espécie de libertação. Nessa busca por melhores condições de vida, no dizer de Raquel Rolnik (1995, p. 12), “a cidade aparece como um imã, um campo magnético que atrai, reúne e concentra os homens”.

Contudo, ao perder o acesso à terra, às plantações, o homem perde também a subsistência, caracterizando-se numa dupla condição: livre e despossuído, para muitos, a cidade trouxe a liberdade e também a pobreza.

O trabalhador precisa agora correr contra o tempo, abrir mão de toda e qualquer atividade que não fosse o trabalho. O ritmo frenético da produção isolou o homem e os avanços tecnológicos lhe trouxeram o conforto e lhe trouxeram mais isolamento, como disse Walter Benjamin (1994, p.124), “o conforto isola.

Por outro lado, ele aproxima da mecanização os seus beneficiários”. É neste estado de solidão e isolamento com uma individualidade desorientada, desvinculada do grupo social mecanizado, que o poeta se encontra.


Ele agora é um ser exilado em sua própria terra, se vê em dissonância com o mundo onde prevalecem valores marcadamente burgueses, como a obsessão pela acumulação de capital que acaba por gerar uma sociedade individualista.

No poema de Drummond, o eu-lírico, ao se dar conta de sua angústia solitária, questiona: “Estarei mesmo sozinho?”, demonstrando sua inquietação a respeito de se viver rodeado por dois milhões de habitantes que não lhe fazem companhia.

O poeta esclarece que nem precisa de tanto, precisa apenas de um amigo, precisa apenas de uma mulher; quantos estarão como ele nesse momento, tão próximos e tão distantes, tão acompanhados e tão sós.
Quantas mulheres nesse momento se olham e se perguntam sobre o tempo perdido. Buscariam nesse momento também por uma companhia? Como saber? Já é tarde e a cidade dorme para acordar para o trabalho, o poeta que não ouse perturbar as poucas horas de sossego daqueles dois milhões de habitantes, como diz os seguintes versos de Drummond: “Estou só, não tenho amigo / e a essa hora tardia como procurar um amigo? [...]

Mas se tento comunicar-me / o que há é apenas a noite / e uma espantosa solidão” (ANDRADE, 2004, p. 19 - 20).


O barulho das máquinas, do trânsito, das buzinas... é cessado por algumas horas, mas esse silêncio ecoa para o poeta trazendo-lhe à tona um clamor, uma revolta e um desejo de ser ouvido por alguém que possa lhe fazer companhia, como podemos observar nos últimos versos de Drummond no poema A bruxa: “Companheiros, escutai-me! / Essa presença agitada / querendo romper a noite / não é simplesmente a bruxa. / É antes a confidência / exalando-se de um homem”

(ANDRADE, 2004, p. 20).

Esse homem inquieto, “presença agitada” em meio à calmaria do descanso da cidade não é simplesmente a bruxa que se vale da noite para, segundo a crença, realizar seus rituais; sua inquietação é, antes de tudo, a confidência de um homem, um homem comum que, inconformado com o isolamento do de dois milhões de habitantes escreve e exterioriza sua angústia, como já foi aludido anteriormente, a angústia do poeta sozinho em meio à multidão.


REFERÊNCIAS

ANDRADE, Carlos Drummond. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Record, 2004.

BENJAMIN, Walter. Charles Baudelaire um lírico no auge do capitalismo. trad. BARBOSA, José Carlos Martins e BAPTISTA, Hemerson Alves. São Paulo: Brasiliense, 1994.

FONSECA, Aleilton Santana da. O poeta na metrópole: “expulsão” e deslocamento. In: FONSECA, Aleilton S. da; ALVES, Rubens. (org). Rotas & imagens: literatura e outras viagens. Feira de Santana: UEFS, 2000.

HYDE, G. M. A poesia da cidade. In: BRADBURY, Malcolm e McFARLANE, James. (org.). Modernismo: guia geral (1890-1930). Tradução de Denise Bottman. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

ROLNIK, Raquel. O que é cidade. São Paulo: Brasiliense, 1995.



Claudia Menezes Nunes . Mestranda em Literatura e Diversidade Cultural pela Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS, possui Graduação em Letras pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB